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USAR OU NÃO A CALCULADORA EM SALA DE AULA?

Por Escrito em: 23/05/2019
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Kátia Stocco Smole

Diretora do Grupo Mathema

Cristiane Chica

Gestora da Área Pedagógica do Grupo Mathema

Cristiane Akemi Ishihara

Mestre em Educação pela FEUSP

Muitos  professores apresentam argumentos para não utilizara calculadora nas aulas de matemática, tais como: “os alunos deixam de saber fazer contas”, “tornam-se dependentes da máquina” ou mesmo “calculam mecanicamente, sem pensar”. Podemos notar que as justificativasse fundamentamna defesa do cálculo como componente essencial do ensino e aprendizagem da matemática. Muitas vezes,o ensino da disciplinase caracteriza por um excessivo peso nas chamadas contas armadas, sendo a memorização e manuseio das técnicas operatórias o fio condutor das aulas ao longo dos diferentes anos de escolaridade.

É comum a preocupação dos professores com o fato de que os alunos, se usarem a calculadora, fiquem dependentes dela para resolver operações e problemas. Mas pensemos nos seguintes pontos:

  • Os alunos hoje, sem o uso constante da calculadora, são bons em cálculo?
  • Quando usamos a calculadora, quem faz a parte técnica é a calculadora. Mas a quem cabe a decisão sobre qual operação realizar?

Antes de prosseguirmos em nossa resposta, acione o ícone da calculadora e realize a seguinte atividade :

Paula gosta de usar números grandes. Quando perguntaram sua idade, ela respondeu que já viveu 7.358.400 minutos. Quantos anos Paula já viveu? (considere um ano com 365 dias).

E você quantos minutos já viveu?

Você pode dizer que fez essa atividade mecanicamente? A calculadora “pensou” por você?

Pois bem, acreditamos que o uso da calculadora não impede os alunos de pensarem matematicamente, muito pelo contrário.Também achamos que não cabe mais discutir se devemos ou não usar a calculadora nas aulas da disciplina mas refletir sobre como usá-la para auxiliar os alunos a aprenderem mais e ampliarem seu pensar matemático.

Da mesma forma, não está em causa a eliminação das técnicas de cálculo, nem muito menos afirmar que o cálculo não é importante e que não deve ser parte integrante da matemática escolar. O que merece atenção é a forma de se abordar as estratégias de cálculo nas aulas .

 

Menos Técnica, Mais Pensamento:

O uso da calculadora poderá provocar uma redução no cálculo escrito e mecanizado. Mas será socialmente preocupante um aluno não encontrar, com a mesma rapidez que um estudantede há 20 anos, o quociente de um número de sete algarismos por quatroalgarismos, utilizando unicamente lápis e papel? A destreza de cálculo numa situação como esta, contribuirá para reforçar a compreensão da operação? Acreditamos que não. No entanto,  poderá ser preocupante se o aluno, observando o dividendo e o divisor, não conseguir ter mentalmente uma ordem de grandeza do quociente. Aliás, temos visto que há muitos alunos que nunca usaram a calculadora, para os quais 30 : 3 = 1!

Não é preocupante a diminuição do cálculo escrito e das técnicas tradicionais, pois o uso da calculadora de forma consciente traz implícito o desenvolvimento do cálculo mental e da estimativa.

Perde-se em habilidades mecânicas, mas é possível ampliar a compreensão da realidade dos números:do seu sentido na vida e nos problemas e da sua ordem de grandeza.

Desenvolver o sentido de número e capacidades como o cálculo mental e a estimativa são objetivos da aritmética básica que ficam extremamente valorizados com a introdução da calculadora. Isso porque consideramos que desenvolver um sentido sobre números é muito mais que fazer contas, é construir uma rede de ideias, esquemas e operações conceituais que levem o aluno a utilizar osconceitos em uma ampla variedade de situações.

Uma nova forma de encarar o cálculo possibilita diferentes abordagens numéricas. Por meio de atividades que permitam o uso da calculadora, o aluno pode investigar propriedades, verificar possibilidades de manipulação, tomar decisões em contextos variados. São fatores  importantes e decisivos no desenvolvimento de uma atitude de pesquisa e investigação nas aulas de matemática.

Para que os alunos não fiquem dependentes da calculadora, é necessário que aprendam a usá-la de forma correta, utilizando as possibilidades abertas pelas memórias, teclas das operações e funções diretas, porcentagens e raiz quadrada, só para falar das calculadoras simples. Do ponto de vista pedagógico, o uso problematizado da calculadora, deve incentivar a reflexão, a análise e a razoabilidade  dos resultados que a máquina vai fornecendo. Também é preciso fomentar o registro, sempre que necessário, dos passos intermediários do desenvolvimento das estratégias, para que os alunos possam analisar possíveis alterações a serem feitas em seus procedimentos de resolução de um problema. Podemos dizer que a calculadora estimula a atividade matemática:

 

  • Na construção de conceitos:

A discussão do cálculo, que passa a ser possível fazer com o uso da calculadora, vem enriquecer a construção de muitos conceitos como, por exemplo, os de número, operações, regularidades, propriedades, entre outros. Também permite uma melhor compreensão das operações envolvidas, de forma natural, nesse trabalho numérico.

 

  • Na resolução de problemas:

A resolução de problemas com a calculadora permite a construção e valorização da matemática, representando um espaço de mobilização de diferentes saberes. Além disso, possibilita o desenvolvimento de capacidades e atitudes formativas face à matemática e à vida.

‘A calculadora vem abrir novas dimensões às atividades, aliviando o peso dos cálculos que a resolução de um problema geralmente transporta e permitindo ao aluno ter foco em seu processo de resolução.

Encarar situações problema ligadas à vida e aos dados reais ganha, com a presença da calculadora, um lugar mais importante na educação matemática. Assim, os alunos podem, sem risco de serem pressionados por cálculos extensos, pesquisar, organizar e gerir os dados com muito maior facilidade e rapidez.

 

  • Na organização e gestão de dados:

A presença da calculadora vai permitir que os alunos com menor domínio das técnicas básicas de cálculo não fiquem impossibilitados de viverem, o processo de formulação e resolução de problemas.  No processo eles podem aprender técnicas alternativas que lhes permitirão superar as dúvidas.

Além disso, por permitir aos alunos poderem trabalhar mais problemas devido à rapidez com que os cálculos são efetuados, o uso da calculadora abre a possibilidade de se atentar para fases do problema geralmente negligenciadas, tais como a discussão do resultado, a análise da estratégia utilizada e a  possíveis generalizações para os processos utilizados na resolução ou para os resultados obtidos.

É importante ressaltar a contribuição da calculadora na diversificação das estratégias de resolução de problemas incentivando conjeturas, experimentações, verificações e formulação de novas hipóteses. São elementos que permitem o desenvolvimento de métodos próprios de resolução baseados, por exemplo, em de tentativa-erro, que têm muito a ver com as novas abordagens numéricas já comentadas.

Embora estejamos conscientes de que a calculadora não é indispensável para a prática de resolução de problemas, estamos convictos que ela permite a abordagem de mais e melhores problemas, integrados em situações numéricas mais ricas.

Para concluir, podemos dizer que, quando usada de modo planejado, a calculadora não inibe o pensar matemático. Pelo contrário: ela tem efeito motivador na resolução de problemas, estimula processos de estimativa e cálculo mental, dá chance aos professores de proporem problemas com dados mais reais e auxilia na elaboração de conceitos e na percepção de regularidades. A utilização da calculadora humaniza e atualiza nossas aulas, fazendo com que os alunos ganhem mais confiança para trabalhar com problemas e buscar novas experiências de aprendizagem.

 

Para saber mais:

FEY, J.T., HIRSCH, C.R.Calculators in Mathematics Education 1992 Yearbook. NCTM, 1992.

Parâmetros Curriculares Nacionais 1º, 2º, ciclos do Ensino Fundamental – Matemática. SEF/MEC, Brasília, 1997.

Parâmetros Curriculares Nacionais 3º, 4º, ciclos do Ensino Fundamental – Matemática. SEF/MEC, Brasília, 1998.

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22 Comentários para “USAR OU NÃO A CALCULADORA EM SALA DE AULA?”

  1. Alcione Prado disse:

    Excelente texto, muito bem embasado nas suas argumentações e muito atual também, uma vez que as novas gerações de crianças precisam de aulas mais dinâmicas, desafiadoras e contextualizadas. Concordo principalmente com o argumento de que priorizar o cálculo mecânico na resolução das situações problema é empobrecer essa ferramenta de trabalho tão rica se bem abordada.

  2. nete_abdouni disse:

    Esclarecedor, com linguagem clara e direta.

  3. Katiene Santos Paes disse:

    Incrivelmente significativa as estratégias para uso da calculadora nas aulas de matemática.

  4. MARIA MIRIAN DE LAVOR LIMA disse:

    O texto bastante esclarecedor quanto ao uso da calculadora em sala de aula,nos fez refletir sobre a forma correta de como usar em sala de aulas com os alunos utilizando as possibilidades abertas,como memória,teclas,etc.No ponto de vista pedagógico a calculadora incentiva a reflexão, ´á analise dos resultados.Com a leitura do texto ficou claro que quando usamos a calculadora partindo de uma ação planejada,a mesma não inibe o pensar matemático e que ajuda na motivação da turma e dinamiza as aulas tornando mais significativas.

  5. Ana Patricia Nascimento disse:

    Trouxe uma nova visão sobre o uso da calculadora, pois realmente imaginamos que esse recurso não irá proporcionar uma aprendizagem satisfatória no aluno, mas o que devemos observar e compreender é que este instrumento pode ajudar na forma de abordar novas estratégias de cálculo durante às aulas.

  6. Ricardo disse:

    Você tá louco, nunca aprendeu direto a disciplina. No dia q o vestibular autorizar a calculadora, volte novamente à questão.

  7. Daniel G. Sánchez disse:

    Na minha opinião, creio ser o uso da calculadora prejudicial aos alunos das séries iniciais do ensino fundamental, pois penso ser relevante o estimulo maior ao uso da mente já nos primeiros cálculos escolares. Grandes matemáticos surgiram já há muito tempo atrás, sem que tivessem tido necessidade de um acessório de auxílio mecânico, além de uma pena e papel (ou mais distante: papiro). Percebe-se que até mesmo pessoas analfabetas conseguem realizar cálculos mentais rapidamente, pois exercitaram suas faculdades mentais na área relativa à matemática, devido às situações de cálculos que se depararam e lhes foram impostas durante o decurso de suas vidas. O que vejo prejudicar o anseio das crianças em usar não mais que sua mente, lápis e papel de maneira rápida e eficiente é: a dificuldade que possui o ensino atual em conscientizar o aluno desde cedo do por quê ser ágil em cálculos, ou seja, qual o beneficio que isto pode trazer à sua vida, ou ainda: qual a utilidade para ele no dia a dia. Tenho aqui procurado expressar este meu pensamento apenas na intenção de contribuir a uma melhor análise, do que se pode procurar realizar para o futuro de nossas crianças.

  8. Marília Stéfano Iricevolto Zucherato disse:

    Ótimo texto, contribui para inovação das aulas de matemática, através de estratégias diversificadas para o aprendizado significativo.
    A calculadora abre novas dimensões e até estimula o aluno na realização as atividades matemáticas

  9. TANIA MORETTO ARRIGO DOS SANTOS disse:

    A calculadora não é bem aceita por muitos professores e pais, achando que vai impossibilitar a criança ou atrasar seu raciocínio lógico. Porém esta favorece a busca e percepção de regularidades matemáticas, desenvolvendo o aluno a buscar estratégias na resolução de situações-problemas.

  10. Angela Rosa Benis Garcia disse:

    Foi muito importante, pois desmistificou o uso da calculadora, levando-me a compreender que ela pode ser mais um auxílio, um material de apoio, para a aprendizagem da Matemática, e que, sabendo utilizá-la, só trará melhorias para a compreensão e resolução das atividades.

  11. Silvia Cristina de Oliveira Casado disse:

    Texto excelente. Ele esclarece a respeito dos benefícios do uso da calculadora em sala de aula.

  12. Siomara disse:

    Não utilizava a calculadora, mais a partir da leitura pude observar que faz sentido ,pois a criança que irá determinar qual a operação usar para resolução do problema., gostei.

  13. Margarete Aparecida Gasparotto disse:

    Acho que além de tudo o que foi dito, a calculadora seria um excelente instrumento para a autocorreção no caso de algoritmos.

  14. Nilda Bandeira disse:

    O texto é claro e objetivo, auxiliando na percepção da importância do uso da calculadora.

  15. Juliana Gonçalves Queiroz Santos disse:

    Gostei muito, interessante que realmente essa é a fala da maioria dos professores que se as crianças usarem a calculadora não irão aprender resolver os cálculos, na verdade de acordo com o texto não é que elas não irão aprender, mas sim terão novas possibilidades de compreensão no desenvolvimento de cálculos e também utilizaram de novas estratégias, outro ponto que achei bem interessante é a questão da tentativa-erro, que faz com que o aluno pense em outras possibilidades. Gostei muito do texto.

  16. Ana Elisa da Costa Moreira disse:

    Bom dia!
    Um texto muuuito enriquecedor que nos faz refletir sobre a necessidade de ser flexível na forma de compreender o pensamento matemático e ser mais aberto a realizar tentativas de exercício do pensamento matemático.

  17. Cynthia Delmonaco de Castro Deliberador disse:

    Excelente fundamentação pq o preconceito com uso em sala ainda vigora e hoje todos q possuem celular tem calculadora em mãos o tempo todo.

  18. Lucilene Silvério disse:

    Concordo com o uso da calculadora no sentido de fazer com que o aluno perceba suas capacidades de raciocínio. Às vezes a insegurança em relação ao algoritmo das operações acaba prejudicando a busca de estratégias na resolução.

  19. Guy Jose Leite disse:

    Muito bom e convincente.
    Venho defendo o uso da calculadora há mais de vinte anos.

  20. Thais disse:

    A calculadora pode ser um recurso muito útil na aula pois para se chegar ao resultado, o aluno precisa saber quais comando utilizar para se chegar ao resultado. Situações problemas que tenham números maiores, o uso da calculadora pode auxiliar muito.

  21. Eliete Maria dos Santos disse:

    Gostei muito do texto, a calculadora pode e deve ser utilizada como um recurso a mais para o aprendizado dos alunos e estimula na realização as atividades matemáticas.

  22. Priscila disse:

    Concordo com o texto, também penso que temos que ensinar as crianças a utilizarem a calculadora corretamente, claro que acredito que antes de utilizar este instrumento os alunos devam estar dominando todos os conceitos e habilidades específicas para a faixa etária. Assim o uso da calculadora será um acréscimo ao conhecimento dos educandos, ampliando suas possibilidades.

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